No promises

“So promise me only one thing, would you? Just don’t ever make me promises.”

 

Eu lido, na maior parte do tempo, com as minhas frustrações. Admito que, em grande parte, elas são frutos da minha imaginação expectante. Coisas minhas supero, doem, machucam, mas se fecham e depois até dão uma certa vergonha de lembrar. Coisas minhas são minhas e eu as jogo fora quando não me cabem mais. Acumuladora como sou, às vezes só demoro um pouco mais.

Mas nada me dilacera mais que promessas advindas de timbres que me arrastam e olhares que me embalam. Ou seria o contrário? Fato é que se existe um pecado que não merece perdão é esse: Promessas que não se cumprem.  Para que fazer um coração acreditar em coisas que jamais existirão? Sem contar que é de uma covardia imensa. Quando criança me doíam os “na volta a gente compra” da minha mãe, talvez fosse uma preparação para as coisas da vida adulta e de gente que com um par de olhos, de seios, de pernas e uma coleção infindável de sorrisos te faz acreditar em promessas mais vazias ‘quanto um sonho bom’.

Claro que parte disso também é culpa minha que me deixo iludir. Acreditei em todas as promessas da minha mãe, assim como sustentava ilusões de papai noel, coelhinho da páscoa, bruxas e discurso político. Acho até que tenho fortes tendências em maquiar a realidade. Doses de ficção fazem a vida valer a pena. É quase como se iludir que ao ver a neve, não tiritamos de frio. A neve é linda, mas a dor muscular que o frio traz, não tanto. A gente suporta coisas por causa do bem que nos fazem, ainda que momentâneos e ilusórios. Fictícios, por que não?

Mas aquelas promessas feitas com os olhos sangram a alma porque fora o compromisso tácito que elas firmam, a alma, por ser pura, límpida, não entende os enganos do corpo, este invólucro das vontades momentâneas travestidas de eternidades. As vontades são perigosas porque nos faz crer serem para sempre, ou minimamente duradouras até o próximo ano e, pela sensação que nos traz no presente, pensamos poder prolongar por muito tempo. Impossível controlar as vontades. Nossas. Dos outros. Do tempo. São fugazes, fugidias e fátuas.

Nossa primeira reação é culpar o outro por nos fazer acreditar em promessas ditadas pela vontade e prazer do momento, mas a culpa é toda nossa, afinal, também não mudamos de vontades? Também não engravidamos outrém com ‘promessas de um futuro bom’? Talvez seja humano esta tendência a planos longíquos e promessas que não nos competem. Somos dados ao engano, em todos os tempos do verbo que aqui também nos confunde de substantivo.

Aliás, substantiva e subjetiva a promessa, por isso tão volátil como se gasosa fosse, talvez seja e explica os efeitos de sua toxicidade no coração de quem acredita. Ela embota sentidos, como droga nos faz gostar, viciar, acreditar e arrastar uma carcaça pesada estrada a fora. Quando seu efeito passa, a gente acorda e fica preso no limbo da dor, desengano e se culpando por ter acreditado tanto. A ficção do romance nos cerca. Quem não deseja essa felicidade de filmes de sessão da tarde?

Fico aqui agora entre a razão e emoção das promessas que acreditei, mesmo que lá no fundo a razão me impelisse a correr. Fazer o que se eu gosto de correr perigo, não tenho medo de sangrar e nunca usei colete a prova de balas e de amor?

Agora eu sangro sozinha e rio entre lufadas do meu próprio fôlego, vou me reerguer para cair de novo, porque eu sei que vou, quantas vezes forem preciso. Mas não me prometa mais nada porque eu vou te acreditar.

“I’ve never done this before, promises, promises, but I’m enjoying the illusion and the things my body says.”

Promises, Promises – Incubus

Vai, agora é a sua vez de falar