O muro

Quando a vida ficava insuportável eu costumava olhar nos teus olhos. Eram eles que sempre me guiavam, eram neles que eu encontrava o abrigo, porque eu sabia me ler no fundo deles. Veja, não é cobrança, é constatação. A vida vai mudando, a gente vai encontrando algumas pedras pelo caminho e quando vê, já temos um muro bem alto no meio da gente. As pedras pelo caminho não constroem castelos, mas muros. Antes fossem castelos que assim você veria a vida do alto e sozinha protegida pela fortaleza, não deixaria mal algum chegar perto, mas os muros não fazem isso. Os muros separam olhares, desfazem laços e abraços. Os muros te fazem perder o encanto, o brilho, o costume. Eu não lembro mais de como eram nossos olhos quando a gente conversava em silêncio e a vida se resolvia tão simples, o muro já levanta alto e eu não tenho força, nem disposição, e juro, não tenho também mais paciência de subir e espiar você do outro lado. A sensação que dá é que a marcha da vida acelerou só pra um de nós e eu não suporto te olhar ficando pra trás. Nem sei se é você mesmo que está ficando para trás, não sei se sou eu. Esse é o problema, eu não sei mais, nem de mim, nem de você. Não somos nós. Não somos nada.

 

Não estou reclamando é apenas uma constatação.

Um comentário sobre “O muro

Vai, agora é a sua vez de falar